São Paulo, 26 de novembro de 2021 – Enquanto Kelly Furlan se dedicava à fase de produção de seu livro, “Vivências de uma mãe solo”, alguns importantes passos eram dados pelo Poder Legislativo em relação à condição de um recorte importante de cidadãos brasileiros, que representa quase a metade das pessoas que são arrimo familiar, ou seja, que provê o sustento de um lar. Sim, o gênero desses cidadãos é FEMININO e a maioria delas tem de arcar com a complexa tarefa de criar seus filhos, trabalhando, estudando, e uma série enorme de verbos em gerúndio que só elas conseguem conjugar.
O Projeto de Lei 2099/20 acaba de ser aprovado na Comissão dos Direitos da Mulher, da Câmara dos Deputados e tem como público alvo, essas mães que são chefes de suas famílias. “Eu fiquei surpresa e feliz em ver que, enquanto eu, de forma ‘solo’, como tenho feito tudo na vida, inclusive ser mãe, enxergava tantos desafios e discriminação, esse projeto vinha sendo desenhado, em Brasília”, comenta a autora do Livro. “Um ativismo em defesa das mães solo está se formando, na medida em que nós, mulheres, nos conscientizamos da importância que temos para a sociedade e mais, para nós mesmas. Foram tantos séculos de sublimação da nossa força que nem nós mesmas nos reconhecíamos. Que bom que tudo está mudando!”.
Uma nova forma de preconceito
Há pouco mais de cinco anos, aquela moça, ‘workaholic’ executiva, dedicada à gestão de pessoas, havia enfrentado e superado um AVC isquêmico, quando a vida lhe surpreendeu novamente, com um desafio muito mais gratificante, mas que não seria bem uma promoção ou um novo cargo naquela empresa dos sonhos…
Ela descobriu que estava grávida, depois de um relacionamento fugaz, e em seguida, entendeu que a trajetória de dar à luz seria um caminho ‘solo’. Kelly estava na condição que até então, ela conhecia pelo termo ‘mãe solteira’, ou seja, aquela mulher que, apesar de não ter um parceiro ou uma união civil, está grávida e vai ter um filho.
O livro, de pouco mais de 50 páginas e leitura fluida, relata passagens relevantes da vida de Kelly, mas mergulha na trajetória de uma mulher que se viu grávida de repente e enquanto via sua barriga crescer, via também agigantar-se à sua frente, uma montanha de equívocos sociais, moralistas, discriminatórios, machistas e preconceituosos, e que dizem respeito a pessoas como ela, que em termos estatísticos, somam mais de 12 milhões de mulheres no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE).
“Os dados são do mais recente censo feito pelo IBGE. Das famílias comandadas por mulheres, 56,9% vivem abaixo da linha da pobreza”, exclama a autora. “E no Brasil, mais de 40% das famílias têm uma pessoa do sexo feminino à frente da tomada de decisões, ou seja, trazem o sustento para a casa e filhos. Agora, será que uma mãe solo não consegue dar conta do recado e ser feliz?”, questiona.
Kelly descobriu, de repente, o preconceito, o julgamento, as barreiras de cidadania para conquistas como creche para o filho, compor horário de trabalho com os cuidados à criança, a perda de competitividade no âmbito profissional.
“Existem as ‘mães solo’, porque ser mãe é uma condição que transcende um estado civil, transcende parâmetros morais impostos socialmente, mas que ainda não é aceita socialmente”, explica Kelly. “Então me vi atônita diante dessa constatação e decidi escrever o livro com um breve resumo da minha história de vida, para chamar a atenção da sociedade para este segmento de pessoas que também são discriminadas, que precisam de políticas públicas que as ampare, que precisam até de um ativismo para conscientizar a sociedade, os governantes e as instituições, porque sobre nós paira o desafio de lastrear os cidadãos que vão conduzir o país, daqui a 20 anos”. Para Kelly, entretanto, só pelo fato de se tratar de mulheres e seus filhos, já haveria motivos para que a sociedade as respeitasse incondicionalmente.
A nova cara da ‘maternidade’
“É possível afirmar que a maternidade não mais decorre da alteração do estado civil, de uma vida conjugal, propriamente dita, mas da parentalidade, do desejo de tornar-se mãe, portanto, não é o marido ou companheiro que torna as mulheres ‘mães’. Esse poder é e sempre será dos nossos(nossas) próprios(a) filhos(as).”
Existem inúmeras possibilidades dentro desse grupo das “MÃES SOLO”:
• Mães que geram seus filhos por inseminação artificial;
• Mulheres que engravidaram e sabiam, a partir do momento que escolheram ter o bebê, que estariam por conta própria nessa criação;
• As que optaram pela adoção de crianças, independente do estado civil.
• Mães que estavam casadas ou se relacionando com o pai da criança quando engravidaram, mas que dos quais se separaram e viram-se inteiramente sós para viver a maternidade;
• Aquelas cujo companheiro não assume a criança e se abstém de qualquer contato familiar – ou então abandonou a família após o nascimento da criança.
Se o pai não divide a criação com a mãe igualitariamente, 50% a 50% do tempo, ela ainda será considerada uma mãe solo – mesmo que ele coloque seu nome na certidão do filho(a), pague a pensão que deve e veja a criança algumas vezes durante a semana.
Essas mulheres começaram a ser reconhecidas na Constituição Federal de 1988, independente de uma união civil ou conjugal.
O livro “Vivências de uma mãe solo” foi editado e publicado de forma independente.
Serviço:
Data: 04/12/2021
Lançamento do Livro “Vivências de uma mãe solo” – Kelly Furlan
Horário : das 15h às 18h
Local: Restaurante Sevilla Puros – Apoio Cultural
Rua Oscar Freire, 2138
Valor do Livro : R$ 20,00